Em uma sociedade da aparência-é-tudo, rótulo e conteúdo se confundem mais do que supomos. A beleza liquefaz a maior parte dos julgamentos, torna digno de atenção o mais vazio ser presente na festa; digno de favor o mais preguiçoso dentre os hóspedes; digno de crédito os mais ingênuos dentre as testemunhas...
A beleza desincentiva os esforços de auto-aperfeiçoamento, pois num mundo em que a regra é sobreviver da melhor forma possível, deve ser difícil resistir a tantos favores, a tantos: "já botei seu nome no trabalho"; a tantos: "se você quiser a vaga é sua"; a tantos: "deixa que eu carrego para você", a tantos "deixa que eu pago."
Por isso, quando apesar bonita uma mulher é também culta e inteligente, seu mérito deve ser dobrado: porque suas conquistas intelectuais demostram que não se curvou aos lacaios de prontidão que queriam, apenas para poder acompanhá-la de perto, impedir a bela de qualquer esforço, e, assim, mantê-la como um bichinho ornamental, pelo prazo que dura a dita beleza.
Por injusto que possa parecer, uma das vantagens de ser belo é poder fazer uma tarefa de forma medíocre e ter razões para esperar que os outros a avaliarão acima do que realmente vale. Até com nomes isso ocorre. Por exemplo, nos EUA pesquisadores descobriram que o simples fato de a pessoa possuir um nome bonito, tende a distorcer para cima a avaliação que recebe em redações escolares ("Karen" era o nome mais bem avaliado). Tal distorção é chamada de efeito halo. É como se pessoas belas (ou com qualidades apreciadas, como um nome apreciado) gerassem uma aura capaz de esconder seus defeitos ou supervalorizar suas qualidades.
Isso significa que, na prática, quanto mais bonito ou bonita você for, menos inteligência e força precisará utilizar para obter elogios em quase tudo o que fizer. É possível visualizar neste fenômeno uma das possíveis explicações para o estereótipo da "loira burra" ("dumb blond"). Se tomarmos essa expressão popular como sinônimo de mulher bonita, podemos, de fato, afirmar que “as belas”, se quiserem de fato usar a inteligência, podem relaxar, fazer suas tarefas pela metade etc. que, ainda assim, as pessoas à sua volta tenderão a atribuir um valor positivo ao que fazem. Se esforçar para quê?
Portanto, a bela loira, ao ser, digamos, cognitivamente displicente, não é burra, é estratégica, aproveita-se do impacto obscurecente que sua beleza provoca no julgamento alheio.
Portanto, a bela loira, ao ser, digamos, cognitivamente displicente, não é burra, é estratégica, aproveita-se do impacto obscurecente que sua beleza provoca no julgamento alheio.
Em termos criminológicos, o efeito halo é uma das espécies mais daninhas de injustiça policial e judicial. Nancy Etcoff (1999: 62) observa que:
“Adultos de boa aparência tendem a sair ilesos de furtos de lojas a fraude de exames e perpetração de crimes sérios. São menos propensos a serem registrados (não são vistos de maneira suspeita), e, quando registrados, há menos possibilidade de que sejam acusados ou sofram punições.”
Pelas vantagens sociais da adequação ao padrão estético, nesse momento, milhões de pessoas se submetem a dietas frenéticas, cirurgias plásticas, temendo momentos de exposição pública do corpo (como na praia), antevendo a forma cruel com que a sociedade lida com os que não seguem suas regras. Tal preocupação com a estética pode até nos parecer fútil, mas numa sociedade regida pelo efeito halo, a beleza é um capital estratégico. Talvez não seja fundamental, mas certamente é útil. Injusto? Sim e muito. Mas quem disse que o mundo é lá comprometido com a justiça?
Para saber mais:
ETCOFF, N. (1999). A lei do mais belo. Rio de Janeiro: Objetiva.
SELL, S. C. (2006). Comportamento social e anti-social humano. Florianópolis: Ijuris.
Sandro Sell
16.9.06
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOk, Violene. Vou ver o que posso fazer.
ResponderExcluirNo mais, você quer é elogio. E por escrito pode pegar muito mal. Então vou fazer de conta que não tomei ciência do seu falso auto-flagelo...
Sandro
"a bela loira, ao ser, digamos, cognitivamente displicente, não é burra, é estratégica, aproveita-se do impacto obscurecente que sua beleza provoca no julgamento alheio".
ResponderExcluirHá ainda o problema do efeito "halo inverso": uma pessoa esteticamente bonita, conforme os padrões dessa questionável cultura(se for loira, pior ¬¬), ter que comprovar que a aparência não é o seu atributo essencial e que seu "ser" cuida de ser mais crítico do que a superficialidade da massa.
É, a beleza padronizada também abre péssimas portas e dá péssimas oportunidades.
:D
Parece que o professor mexeu com os brios da loira Grazi...
ResponderExcluirLeonel
Agora que eu já estudei até o mérito estundantil, você vem me dizer isso, Sandro?
ResponderExcluirContinuo c a esperança de ser mais bonita um dia, pq só ser loira não ajudou muito... Eita vida complicada aqui no mundo real, hein? Fala sério! rsrsrs
ResponderExcluirRenata T.
Famoso "efeito halo" onde a qualidade encobre o defeito.
ResponderExcluirMas e as morenas? Ficam fora dessa? E as crianças? E os professores bonitinhos? Hehehe!
Concordo com o texto de certa forma, mas essa 'super valorização' vai além das loiras... Creio que as loiras sofrem até certo preconceito. *Como no título.
Day.