No início da década de 1950, a UNESCO reuniu especialistas a fim de obter um consenso mundial acerca do que o termo raça efetivamente significava. Sustentou-se, então, a existência de apenas três raças: caucasóide (branco), negróide (negro) e mongolóide (amarelo). As demais, como a raça ariana, raça judaica, raça àrabe ou raça nordestina não passavam de equívocos ideológicos. Mas o que foi negado peremptoriamente é que pesquisas de antropólogos ou biólogos tivessem constatado qualquer relação possível entre uma determinada raça e um determinado padrão de desenvolvimento cultural. Fatores como nível de renda e acesso a boas escolas pesavam muito mais no grau de desenvolvimento do que a “raça” a que pertencia o indivíduo. Os especialistas reunidos apresentaram estudos que mostravam que os negros do sul dos EUA – a região mais pobre e discriminatória do país – tinham nível intelectual mais baixo do que os negros do norte, mais tolerante e rico. E que, portanto, com boas oportunidades, os humanos, independentes de sua raça, atingem os melhores patamares de desenvolvimento.
Se a diferença não era racial-biológica, o que explicava a pobreza a que habitualmente estão os negros atrelados em nossas sociedades? Sugeriu-se, então, a idéia de raça-social, ou seja, o fato de as pessoas comuns considerarem que existem raças e crerem que umas são melhores que outras faz com que sejam negadas oportunidades aos negros, por exemplo, por meio de discriminações. Seria mais um caso de profecia auto-realizável. As pessoas não acreditam que os negros tenham capacidade de ocupar os melhores empregos, por isso não permitem que ocupem e, assim, como não enxergam negros em tais posições, confirmam sua premissa inicial: os negros não têm condições de chegar lá.
Para romper com isso, países como os EUA criaram as políticas de “ação afirmativa”. Trata-se de medidas - como a reserva de vagas em universidades e empresas – para beneficiar minorias que são discriminadas. A idéia por trás dessas polêmicas medidas é de que devem patrocinar a ocupação de cargos elevados por minorias (como negros) até que a sociedade se convença de que não há nada de errado ou excepcional no fato de um negro, por exemplo, tornar-se juiz de direito, general, médico ou advogado. E, a partir de então, pare de impor barreiras à ascensão social das minorias.
Muitos sustentam que o que tais políticas promovem é a confirmação do preconceito. Os membros das minorias que, com a ajuda da ação afirmativa, chegarem ao topo da sociedade serão vistos como pessoas que não têm capacidade de galgarem a evolução social por seus próprios méritos. Ao que respondem os defensores da cotas que, condições de chegar por si só eles de fato não têm, a menos que cessem as práticas discriminatórias cotidianas, objetivo das ações afirmativas.
De qualquer maneira, pesa em favor das ações afirmativas a constatação de que o poder, a riqueza, os melhores cargos e a beleza imposta na mídia possuem sempre a mesma cara lavada e alvejada. Exceções só confirmam a regra: Obama na Casa Branca (mas as reuniões do G8 continuam branquinhas branquinhas), Joaquim Barbosa no STF (mas o Judiciário parece lavado a OMO), Pelé no mundo dos ricos (mas a revista Caras continua loirinha loirinha), Jorge nesse blog, que, no mais, continua macho, branco, cristão e ocidental. Meu Deus/Alá/Krishna/Xangô: precisamos fazer algo urgente!
Em breve, publicaremos aqui alguns estudos relevantes sobre a ação afirmativa.
Sandro Sell
Precisão cirurgica nos argumentos! Abraços, Beto (fiel escudeiro de platéia)
ResponderExcluirMaravilha!!! Maravilha!!!
ResponderExcluirProf. Sandro, o senhor já está fazendo.
É chegada a hora das outras pessoas
seguirem este lindo exemplo.
Meus parabéns!!!
E muito obrigado!
JORGE DA ROSA