O sangue seco e amarelado, estampado na camisa sobre o varal ativa a reprodução incessante de um tempo cíclico de violência irrefreável. Uma lógica destruidora e mortífera destitui a possibilidade de afirmação do diálogo como estratégia de superação dos conflitos. Como adverte a sinopse do filme Abril Despedaçado, “Tonho, filho do meio da família Breves, é impelido pelo pai a vingar a morte do seu irmão mais velho, vítima de uma luta ancestral entre famílias pela posse da terra”.
Com efeito, “se cumprir sua missão, Tonho sabe que sua vida ficará partida em dois: os vinte anos que ele já viveu, e o pouco tempo que lhe restará para viver. Ele será então perseguido por um membro da família rival, como dita o código da vingança da região”. O pai afirma com autoridade implacável os deveres da tradição, inscrevendo na memória do filho a simbologia e os atos do ritual de violência: - “O sangue amarelou; Tonho: conhece a tua obrigação”. Diante da resistência do Menino, seu filho mais novo, que incita Tonho a não realizar a vingança, o pai imediatamente castra a sua palavra com um tapa violentíssimo e reafirma a sentença implacável: “preste atenção Menino, teu avô, teu tio, o teu irmão mais velho. Eles tudo<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> morreram por nossa honra e por essa terra. E um dia pode ser tu. Tu é um Breves. Eu também já cumpri minha obrigação. Se não morri, foi porque Deus não quis”. A fileira de fotografias na parede do casebre retrata que o ciclo louco da vingança interminável só apresenta novos personagens. Tudo não passa do eterno retorno do mal inaugural. A violência e o tempo aprisionados em si mesmos.
A violência da vingança possui rituais, símbolos e regras próprias. Ela apresenta uma lógica previsível e repetível, que exige incessantemente o sacrifício, reativa o ódio entre os adversários, expressa os limites da dívida e da cobrança. Novamente o pai, através de uma sentença implacável, pretende recordar os termos do talião: “Tonho, tu vai com cuidado ao amanhecer, e não se esqueça: tua obrigação é só com quem matou teu irmão. Negócio de homem pra homem. Olho no olho.” .... (
Trecho do livro Processo Penal Eficiente e Ética da Vingança de Alexendre Morais da Rosa e Thiago Fabres de Carvalho)
Por: Prof. Thiago Fabres
<!--[endif]--> <!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> No decorrer do artigo aquilo que estiver em itálico refere-se à transcrição literal das falas dos personagens de Abril despedaçado.
10.3.10
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Thiaguito:
ResponderExcluirMuito belo seu texto. Agora diz pro Alexandre botar uma parte do dele também. Abraço.
"A violência e o tempo aprisionados em si mesmos".O tempo, né? Esse negócio criado pelo humana e do qual somente ele tem noção. Porque só ele precisa de tempo, já que tem noção da sua finitude. Quem não tem tempo, não tem passado,futuro, tampouco presente. Mas de que
ResponderExcluiradianta o tempo diante de uma "senteça implacável", aprisionado em si?
Eu ponho fé nesse garoto, aposto minhas moedas!
ResponderExcluirAgora quero ler um texto sobre "O Sr. das moscas" e sua relação (à la Thiagão) com o processo penal.
Inté
Agradeço os comentários e o texto do Senhor das Moscas tá quase saindo. Thiago.
ResponderExcluirEu amo esse livro! ;]
ResponderExcluirParabens Thiaguito!
O mais difícil pra mim é tentar compreender o porque que o ser humano se perde por tão pouco,age mts vezes de forma tão irracional pelo medo e não vê que a vida é muito mais do que essas correntes culturais, esses valores bobos, essa energia jogada no final em vão...
ResponderExcluirAcho que Hobbes tinha razão,"Homo homini lupus" e "Bellum omnium contra omnes"
tento entender...
Muriel