terça-feira, 1 de junho de 2010

Arti*manhas femininas (in)conscientes

Não é de se estranhar o receio da maioria dos homens quando se deparam com mulheres que sabem argumentar, que propõem projetos e que decidem seus problemas e o dos outros porque, infelizmente, isso ainda é raro.
Vivemos em uma sociedade em que, apesar do movimento feminista (que remanesce, no meu ponto de vista, com mais erros do que acertos), ainda se depara com uma visão depreciativa do feminino – o que, igualmente, não é motivo de espanto, já que muitas mulheres empregam sua natureza mais para a manipulação e feedback de defesas do que para sua própria evolução como ser humano.
Explica-se: a natureza emocional da mulher é usada para criar agitação desnecessária, tempestades em copo d’água, escândalos de choro e lamentações. Esse sentimentalismo é vazio, não ajuda em nada - apenas manipula. Se algo dá errado nos planos da mulher, se alguém sofre, se se surpreende negativamente, chora, lamenta-se. O choro é uma ação que somente poderá trazer algum alívio, mas não um resultado efetivo.
Gasta-se energia desnecessária nas lágrimas ao invés de empreender esforços em envolvimento, em compromisso. Como distingue Osho: é empatia, não apenas simpatia.
O esteriótipo de sentimentalismo da mulher a sedimenta em uma imagem de incapaz, de ineficaz, de ser que precisa de tutela como se não possuísse condições de se autodeterminar. A mulher chorosa que se mingua frente a uma situação triste, portanto, está vinculada à imagem de um salvador, de um homem que a abrace e a proteja. Todavia, tal é um paradigma amplamente equivocado que não só frustra o desenvolvimento das mulheres que cedem a ele como sentencia ao homem hetero-afetivo a eternidade infeliz de conviver com alguém que precisa, sempre, ser salva, impondo-lhe um encargo que, a médio ou a longo prazo, representar-lhe-á o fracasso da totalidade de seu eu masculino. Isso porque precisará "investir" seu tempo em salvar a mulher, ao invés de investir em sua própria evolução como ser humano e como casal.
Há tempos acho tristes os homens que, jocosamente, dizem que o lugar da mulher é servi-lo, encostando a barriga no fogão ou no tanque. São dignos de piedade, realmente, pois não conseguem enxergar que eles mesmos criam ou pretendem perpetuar uma condição parasitária: a mulher lhe serve, mas, para isso, o homem precisa sustentá-la, mantê-la e suportá-la quando, não podendo exercer seus potenciais humanos, cansar-se da rotina do casamento.
O pior, no entanto, não é a pequenez dos infelizes homens que riem de tal situação. O agravamento observa-se no comportamento da própria mulher, que dá reiteração a essa espécie de pensamento ao não impor-se com sua natureza envolvida, sabendo só sentar e chorar.
Molda, dessa forma, sua sensibilidade de acordo com sua conveniência (consciente ou inconscientemente): faz papel de ingênua, ou de sedutora, ou de menininha mimada dependendo do objetivo a ser alcançado - só não se expressa como realmente é e acaba, portanto, deturpando sua inteligência, sua função intuitiva e suas qualidades sensíveis.
É a ratificação do protótipo da adolescente segundo o qual a garota passa a enxergar o mundo de dentro do carro do namorado, segundo leciona C. Dowlling. A mulher passeia pelo mundo do homem. Ao entrar no carro dele – que são as instituições dele – a mulher está meramente excursionando. Ela não tenta sentar-se no banco do motorista, fazer as coisas do jeito dela, provocar mudanças. Ela não tenta alcançar o poder sobre sua vida.
Professa a rançosa cultura medieval, esculpida no cristianismo, que defende que o homem é a cabeça da família e a mulher, submissa, é o corpo familiar, cujos movimentos, ímpetos, emoções, palpites são intimamente dependentes do que a/o cabeça determinar. Remanescerá mascarada, atrás do homem, escondida pela relação parasita-hospedeiro mantida com seu par, ou com seu pai, com seu irmão.
Assim, será a eterna passageira no automóvel do homem; será o corpo que obedece, não tem sentidos senão o tato limitado pelo querer do homem. E este, crendo que domina o relacionamento, impinge a sua própria condenação de não se realizar plenamente.
Contudo, são pouquíssimos os homens esclarecidos sobre essa visão, são raras as mulheres que honram não só o que têm entre as pernas, mas também o que guardam dentro de si - o que torna, por óbvio, a maioria das pessoas limitadas quanto ao pensamento de que a mulher não precisa ser salva por ninguém, a não ser por ela mesma.




10 comentários:

  1. O que querem as mulheres? Pergunta recorrente, a única capaz de unir Freud, Lacan, seu Pedro da portaria, o Maneca da venda e o Sandro do blog. O que as mulheres querem? "Nada que se possa dar", é a resposta psicanalítica clássica, pois "elas querem é querer" (já seu Maneca jura que elas querem mesmo é encher o saco). Eu não sei. Só sei que é melhor elas seguirem o conselho da Grazy e salvarem-se a si próprias, porque se depender de nós, vão continuar no banco do carona (com direito a espelhinho no corta-sol e tudo... fofas!).

    (Irritando Grazy Yang - parte 1).

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  2. Parabéns. Temos o direito de tudo, inclusive de errar por nossa própria conta.
    Lucélia B.

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  3. Hahahahahhaha!!!
    Não me irritou em nada, Sandro: assim como o Direito não socorre quem dorme, eu não vou defender quem tem a possibilidade e não *quer* se salvar.
    Assim, não nomearia de conselho o que digo: é a minha constatação tanto com mulheres que lutam por si como com as que ficam no banco do carona, do lado de alguns motoristas que, com o braço para fora do carro, exibem o objeto com grande orgulho, assim como tratam sua companhia como mais uma conquista qualquer (e não que algumas não façam pose para parecer isso mesmo).

    E Lucélia apontou um foco importante sobre o assunto: errar por nossa conta, sem usar ninguém como bode expiatório.

    ...

    (Ah... tem vezes que eu só quero encher o saco, mesmo :D )

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  4. Por mim, nada contra espelhinhos, motorista atencioso e manobrista. Acredito que a Grazi também não seja contra as conveniências masculinas, nem contra sua companhia: somos apenas contra a tutela masculina. Somos tão patéticas e tão fantásticas como qualquer bichinho humano pode ser (o que significa que, como eles, também somos mais patetas que a outra coisa). Então o que queremos? Andar na frente ou de mão dada, mas não de arrasto (e menos ainda pelos nossos cabelos com mega-hair!)
    Mandou bem Grazy (e não liga pro Sandro que dos piores ele é o melhor) ((:

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  5. Acredito que os problemas históricos se concentram em continuar querendo contrapor naturezas diferentes e, ainda, no equívoco do movimento feminista (mais senso comum) que copia acriteriosamente tudo que é do homem. A mulher se masculiniza e ai perdemos todos. Chorar Grazi? Devemos todos chorar! E desaprender a ter que engolir o choro. Qqer psicólogo dirá que é no choro que nosso ego, o ego mais puro, desabrocha.
    De qqer modo, parabéns, costureira!

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  6. Para além das diferenças fisiológicas, culturais, etc, que separam homens e mulheres, vejo o ser humano. Acredito que a busca libertária deva ser empreendida para todos os seres humanos, para poderem realmente ser e sentir.

    :) de qualquer forma, bem sabes que apoio as idéias feministas.. e sabes que adoro tua escrita..

    Bjo Grazy

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  7. Gente, por favor (eu sabia que quase é um erro escrever um texto longo, hehe).

    1) Não prego a diferença entre homens e mulheres, mas vou ser hipócrita de esconder que tal existe?

    2) Não prego a separação entre homens e mulheres: para quem pegou a essência do texto (inclusive recebi emails agradecendo por eu poder tornar alguns homens melhores - esses mesmos disseram), entendeu que o foco do texto é cada um evoluir da sua maneira: a mulher, por exemplo, sabendo, sim, chorar, mas de forma SINCERA e NÃO MANIPULATIVA, só para ter atenção de um salvador.

    3) NÃO SOU FEMINISTA. Sou, inclusive, anti-sexista e anti-especista. E, como algumas pessoas já perceberam, eu defendo tanto os homens quanto as mulheres.

    4) No mais, creio que a Fernanda entendeu bem o que quis dizer.

    Isto, sim, é algo irritante: colocar palavras na minha escrita e, ainda, tentar explicar o que é "certo" e o que é "errado".

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  8. Creio que você foi bem clara desde o início, Grazy: a questão não é construir um mundo de igualdade, mas de convivência não hierárquica de diferenças. Não existe uma essência feminina, nem uma essência masculina fixa: o que existe são construções de identidades com bases em possibilidades anatômicas e culturais. Identidades que podem ser muito cruéis - como a do machão - e manipulativas, como da chorona reinvindicativa. No que eu li, a Grazy sempre demonstrou o devido desprezo pelas identidades que pela força ou pela manha (de periguete gostosona) diminuem e tornam bestas serviçais os que estão ao seu redor.
    Textos assim, como o da Grazy, melhoram os homens? Creio que sim, pois a maioria dos textos de mulheres (com acesso ao público) tem ficado naquele mundinho de mãe ética (Lia Lft)menina-ingênua (Karina Bach, arggg!) ou menina má (Bruna Surfistinha). Mulheres com texto afiado, que cortam novos caminhos a facão, são poucas (a Grazy e Fernanda são dois felizes exemplos disso). Mulheres que nos põe no lugar pela convicção das melhores razões apresentadas com a melhor estética (porque enfeiar o mundo continua sendo atributo predominantemente nosso, masculino). No mais, a canalhisse é algo bem distribuído entre ambos os sexos, ser mulher ou homem é um acidente biológico-cultural, mas ser canalha é sempre um problema moral para o qual não há desculpa.
    Abração em todos e todas, Sandro

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