Há muito não me surpreendo com condenações criminais. Daquela advinda pelo furto de um pote de margarina aos 94 anos de pena impostos à proprietária da DASLU, tudo me soa corriqueiro.
Porém, a prisão de Jason Leroy Savage, norte-americano de 29 anos, condenado a 3 meses de prisão por “manter relações sexuais com um aspirador de pó”, me causou certo espanto. Aos interessados - na matéria, claro! - basta alguns instantes de navegação pela Internet para perceber que a notícia ganhou o mundo à época do fato.[1]
Não me refiro à resposta estatal, a qual, como disse, não me tira o sono, prefiro fixar-me no ato propriamente dito, pois, embora bizarro, tal desejo nada tem de nocivo.
Antes que pensem que minha relação com os eletrodomésticos tem algo de lascivo, explico: alguém com a potencialidade de nutrir esse tipo de afeto por tais utensílios tem diante de si um universo de possibilidades.
Por exemplo, se Jason pretende uma noite romântica, pode jantar com o triturador de alimentos, prosseguir dançando com a enceradeira e, por fim, terminar a noite transando com o aspirador de pó, inclusive reservando-se à faculdade de acionar uma intensidade mais potente, o que, simbolicamente, representaria uma espécie de sexo selvagem.
Porém, caso esteja saindo de um relacionamento e disposto a gozar das benesses da vida de solteiro no melhor estilo one night stand, pode limitar-se a acondicionar o(a) parceiro(a) naquele quartinho dos fundos até o próximo encontro. (como se vê, Jason tem lá seus motivos...)
Mas, enfim, o que há de criminoso nesse ato? O caráter delitivo se deve, certamente, ao fato de que as peripécias foram praticadas em um posto de gasolina! Presumo, então, que se o agente tivesse levado ao aspirador ao cinema, oferecido algumas taças de vinho e uma massagem seria agora aclamado como o Don Juan dos eletro-eletrônicos.
Talvez a linha mais ortodoxa da Igreja Católica pudesse insurgir-se, já que o aspirador de pó, como se sabe, vem equipado com uma bolsa destinada a armazenar tudo o que é sugado, ou seja, já vem com diu. Sim! O aspirador de pó não sofre de enxaqueca, não exige companhia logo após o desafogo da concupiscência – basta desligar a amante da tomada – e ainda vem com método anticonceptivo de fábrica (seria precipitado julgar que Jason além de injustiçado trata-se, na verdade, de um visionário?)
Veja que tudo isso pode ser alcançado com remotas chances de fracasso no processo de conquista, já que a única possibilidade seria a falta de energia elétrica que, na ausência de um gerador próprio, frustraria a intenção do agente.
Mas, afinal, que mal Jason causou à conservadora sociedade americana ao atribuir função diversa ao equipamento/affair?
Nenhum.
Pelo contrário, fez bem! Se nos períodos de crise toda ajuda é válida, pergunto: no Brasil, para onde nosso protagonista iria nos momentos de solidão ou, quem sabe, diante da quebra (ou fadiga pelo uso) de seu aspirador de pó? Recorreria a um night club, local em que reconhecidamente os impostos não são recolhidos a contento? Não! Iria em alguma filial das Casas Bahia para adquirir um novo parceiro, quem sabe até investindo em um modelo com a função autoclean. E mais: no crediário e sem entrada!
Seguindo na nacionalização do pitoresco evento, questiono-me se não corremos o risco do “legislador” converter os hábitos de Jason numa nova modalidade de “violência doméstica”? Não duvide! Se o direito penal tutela quase tudo, dos cetáceos ao pote de margarina, poderia muito bem proteger a integridade sexual dos aspiradores de pó! Em breve teríamos ONG’s, apoio da mídia, inflamados discursos eleitoreiros e, por fim, a Lei “Maria Walitta”.
Bom, de tudo isso, ainda impressionado com a relevância do tema para profícuos debates sobre o sistema punitivo, resta-me apenas um dúvida: caso Jason se comprometesse a ligar para o aspirador no dia seguinte, teria sua pena atenuada?
Por: Prof. Jonas Ramos
Por: Prof. Jonas Ramos
[1] Entre outros endereços: http://g1.globo.com/Noticias/PlanetaBizarro/0,,MUL1058661-6091,00-APOS+SEXO+COM+ASPIRADOR+AMERICANO+PEGA+MESES+DE+CADEIA.html
Jonas, Jonas:
ResponderExcluirFalta Jesus na tua vida, Homem! Esse texto é demais. Nessa lógica se o Jason quisesse uma compahia mais cabeça,xavecaria um PC?
Escreve mais, homem, contando tuas fantasias.
Um abração, mermão. Ah, e o meu Grill George Foreman te manda um upa.
Sandro Sell
Risos...
ResponderExcluirMais risos, muitos risos!
Cara, há tempos não lia um texto tão bizarro e, apesar disso, tão bom, vindo de um penalista pós-contenporâneo-garantista-melancólico.
A tua sátira foi ao extremo do óbvio e por isso é tão impactante, sem ser chata e triste.
Espero ler mais críticas suas à atual onda eficientista não residual e subsidiária do direito/processo penal.
Té mais
Eu estava lendo o texto e pensando: que tipo de homem faria tantos questionamentos, tantas ponderações sobre o comportamento do Jason, sobre essa maneira de se relacionar ... Até que cheguei nos comentários e encontrei o Professor Sandro. Agora eu já sei a resposta!
ResponderExcluirhaushusahsuahushauhsusahsuahushua
Quem sabe um Notebook, professor Sandro, assim poderia levar a companhia pro quarto, pra sala, pra cozinha... hehehe
ResponderExcluirMuito bom o post!
Abraço
Muito bom!!! Poderia jurar q é um texto do Prof. Sandro Sell, tanto pelo tom hilário qto pelo machismo, hahaha
ResponderExcluirREnata Trilha
Pois é.... não foi o Porfessor Sandro quem escreveu, mas "Um abração, mermão." já diz tudo. São amigos! Como diz aquele velho ditado: "dize-me com quem andas que dir-te-ei quem és." hahahahahahahahahahahahahahaha
ResponderExcluirNão, não me confundam: esse negócio com enceradeiras nunca me atraiu.
ResponderExcluirMeu deus, esse blog tá cheio de sandros sell!
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