segunda-feira, 5 de abril de 2010

E...por falar em conhecimento....

A idéia de que alguns setores ou camadas da sociedade possuem mais conhecimento de que outros grupos é aceita com certa naturalidade no corpo social. Sim, alguns ramos profissionais por este status de “maior” conhecimento são considerados mais importantes no seio da sociedade (esta identificação geralmente esta associada ao elitismo da classe profissional). Aliás, algumas palavras servem (ainda!) para manter essa suposta superioridade de conhecimento entre determinados grupos da sociedade (por exemplo o termo “Doutor” usado indiscriminadamente em algumas profissões e que tem como função criar um abismo entre as pessoas). É a visão do colonizador-superior que ao chegar a um local habitado por um povo primitivo-inferior impõe seu modo de viver e de pensar. Assim se procedeu com os índios da América Latina que eram considerados pelos “descobridores” como selvagens e desalmados, fatores que à época justificaram as conquistas e as barbáries cometidas. O conhecimento humano, em geral, está lastreado em ideologias que – apesar de parciais – se apresentam como universais e se tornam hegemônicas. Em nome da ciência moderna destruíram-se muitas formas alternativas de conhecimento e se humilhou grupos sociais que se apoiavam nestas formas diversas para prosseguir as suas vias próprias e autônomas de desenvolvimento. É imperioso que tenhamos a inequívoca ciência de que a diversidade epistemológica existente no mundo caracteriza-se, entre outros aspectos, pela sua potencialidade infinita (todos os conhecimentos são contextuais). Todo processo de conhecimento gera um campo de ignorância! Não se pode considerar como válido (e eficaz) apenas a verificação de um conhecimento puro e completo, mas, ao contrário, a existência de inúmeras e variadas constelações de conhecimentos. Deve-se lutar contra a monocultura do saber e encontrar uma encruzilhada entre os saberes e as tecnologias atuais. Nosso papel não é falar ao povo sobre nossa visão do mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa, já nos alertava Paulo Freire. Como iremos construir um diálogo social e democrático se nos consideramos “donos da verdade e do saber” em relação aos outros e outras e, por isto, nos fechamos as suas contribuições. A auto-suficiência é incompatível com o diálogo. De fato, a efetiva participação dos cidadãos (não-técnicos) surge como alternativa capaz de mudar os paradigmas vigentes e estabelecer novos vínculos sociais que possam garantir a capacidade das pessoas de reagir frente às dificuldades. É imprescindível democratizar (em nível máximo) o conhecimento para que se possa garantir uma participação cada vez mais alargada e eqüitativa dos grupos sociais nas instituições que controlam a produção e reprodução do saber. Nossa missão não é separar, mas vincular.

Por: Prof. Ruben Rockenbach

2 comentários:

  1. Grande Ruben,

    É difícil comentar qualquer coisa quando se concorda tão completamente que o que foi escrito. Copiando, mas continuando o meu comentário para o Sando:

    Enquanto, em cada área do conhecimento, seja ciência, filosofia, senso comum, religião ou ideologia, se conceber uma verdade una, um uni-verso, continuar-se-á negando o outro, o não detentor da verdade que somente eu possuo. Que tal começarmos a criar e recriar espaços de consenso para a validação das verdades, como prega Maturana, e passarmos a aceitar o outro na sua verdade?

    Conceber, então, não só a complexidade do mundo no qual vivemos e os multiversos, mas também a própria complexidade do conhecimento deve ser sempre um primeiro passo. Até porque, desde que há vida, ela se pergunta a respeito da realidade e da verdade. E o que se descobriu até agora? Com o passar do tempo, todas as verdades filosóficas ou científicas são relativizadas e deixadas de lado em nome de uma nova verdade, uma nova descoberta. Com o passar do tempo, desde que ciência é chamada de ciência, não só mudas os paradigmas, mas também todas as verdades pré-concebidas. Pensar então que o mundo e o conhecimento estão em constantes transformações impõe considerar a verdade como uma construção e não como uma descoberta. Pensar o conhecimento sempre dentro do contexto no qual está inserido, e em todas as redes de contexto interligadas, em todas as variáveis. Criar espaços de consenso para que nos quais se possas aceitar o conhecimento, mas sabendo que são apenas espaços de consenso. E nunca tolerar, porque tolerar é sempre uma negação, mas aceitar o outro na sua identidade, nas suas crenças e suas verdades, criando um mundo mais humanizado e ético.

    Abraço, Lei e não ordem (risos).

    Elle!

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  2. "Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar." Esopo (fabulista grego)

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