sábado, 10 de abril de 2010

"Mas, mãe, por quê?"

Na explicação do que é Ciência, Pedro Demo (in Pesquisa e Construção de Conhecimento) propõe a diferenciação do senso comum, do bom senso, da sabedoria e da ideologia.
Pois bem, atento-me ao senso comum. Ao ler que o "senso comum não é científico porque aceita sem discutir, ou melhor, porque não aplica ao conhecimento nele implicado suficiente sistematicidade questionadora. Nisto está a ingenuidade, que pode ir até a credulidade" (p. 17). Em tal ponto, adiantei-me e me perguntei: "mas que raios fazemos com nossas crianças?"
Barramos o conhecer delas de forma abrupta, respondendo-lhe porque não e não percebemos que a cada momento que um corte ríspido de sua curiosidade goteja e ecoa em sua mente, estamos esterilizando a sua criatividade, os seus passos ao desconhecido, até mesmo a sua coragem de enfrentar mudanças – por isso, muitas, fatidicamente, comporão a manada programada que não consegue agir diante do acaso e, desse modo, entra em colapso.
Bem, mas isso pode ser daqui a alguns anos. E o que se vê atualmente?
O senso comum impera tanto na aprendizagem das crianças quanto nos bancos acadêmicos. Apesar de o autor referido defender que "o senso comum não representa algo desprezível, pois, na prática, é a maneira mais usual de ver a realidade", que "não podemos imaginar viável organizar a nossa vida sobre a base de questionamento sistemático de tudo", declarando-o, dessa forma, imprescindível à convivência humana, assevero que o senso comum, hoje, está arraigado de uma forma tão integrada na sociedade que a impede de questionar o mínimo para que possa agir com bom senso, que é a percepção adequada da realidade.
Não creio, portanto, que tanto senso comum é necessário, nem útil, muito menos saudável.
Considerando que a realidade descrita depende do observador e que os membros da sociedade, não questionando, apenas reproduzem o que veem como uma atitude aceita pelos que creem serem autoridades em um dado setor (político, jurídico, social, econômico, tendencial-midiático), é extremamente fácil a manipulação dessa massa pela realidade do observador que tenha interesse nesse comodismo – mais fácil que tirar doce de criança.
Comodismo ou ingenuidade? A mediocridade é digna de raiva ou de compaixão?
Seguindo o raciocínio aqui exposto, fragilmente se conclui pela ingenuidade e pela compaixão: muitos não passam de crianças que, há tempos, ouviram tantos "porque sim, moleque! e cale a boca", "porque não, guria, já te disse", que tiveram bloqueados seus ímpetos criativos e pensantes. Eternizaram-se por segurança e por aceitação dos "mais velhos", das autoridades. Sua alma acolhida pelo senso comum nem ousa questionar o que está "certo", o que está "decidido".
Por conseguinte, não vislumbram a possibilidade de mudanças em suas vidas além daquelas já programadas pela sociedade ocidental: brincar quando criança, curtir quando jovem, ter uma boa profissão e ganhar bastante dinheiro, casar, ter um casal de filhos e garantir uma boa aposentadoria. Não, nem pensam em morrer. Aliás, não conseguem enfrentar a ideia morte – dá medo, como o escuro, o bicho-papão ou o homem do saco (aquele do Chaves).
Não querem questionar porque a conclusão poderá acarretar mudanças. E mudanças dão medo, geram insegurança; além de poderem ser contrárias ao que se tem já estabelecido, por hábito, por costume, por tradição.
Mas, em alguns casos, verificam-se claramente os que, por comodismo, pretendem manter a vida como está. Afinal, em time que está ganhando não se mexe.
Mas, é melhor mesmo não mexer em time que está ganhando?
E o time está mesmo ganhando?
E (pqp!) quem disse que há um time?

Escrito pela Grazielly AB. Ela escreve, muito bem por sinal,  no seu blog http://genealogiadocaos.blogspot.com/.


Postado pelo Sandro Sell

10 comentários:

  1. As crianças poderiam refazer nosso mundo errado, se não fossem condicionadas a repetir nossos erros. Vou levar seu texto para discutir com as demais professoras do colègio onde trabalho.
    Parabéns. Fabiana Thaís da Silva

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  2. É necessária, mesmo, a quebra desse paradigma programado que repetimos.
    A discussão sobre ele é um ótimo começo - senão O começo.

    Bjão, Fabiana.

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  3. Enquanto os meninos se degladiam sobre quem falou mal de quem... eu lei sua postagem que está muito boa. Abraço, Laura

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  4. O sandro fala velho do saco, voce diz que é homem do saco. Será que voces estão falando do mesmo safado?
    Alfredo Sirkis

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  5. Excelente Grasi! Tua costura com as palavras é ótima!

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  6. Gostei dessa postagem. No teu blog achei uma outra Grazielly. Muito boa com certeza. Mas você deveria postar mais vezes nesse modelo aqui. Para mim é mais interassante (sem desincentivos a seus múltiplos talentos). Sucesso!
    Pedro

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  7. Essa moça faz um sucesso danado! Tem que postar mais vezes aqui. Como eu disse no primeiro convite: é uma honra ter seus textos na nossa casa (que também é sua).
    Abraço Sandro Sell

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  8. Obrigada :~

    Estou me recuperando de uma gripe que quase me derrubou - mentira: me derrubou por 3 dias na cama.
    Quando eu conseguir livrar meus neurônios da letargia causada pelas secreções virais, eu volto a escrever :D

    Bjão :*

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