sábado, 24 de abril de 2010

Quando a gente ama...

  não pensa em dinheiro.
Desde que entrei na faculdade, não vejo a hora de me formar. Um dia desses eu estava pensando que no final desse ano eu chego na metade do curso e, por conta disso, comecei a pensar no meu primeiro dia de aula. Quando a gente chega à faculdade a primeira pergunta que nós ouvimos é “Por que Direito?” e, infelizmente, a resposta que mais obtemos é: “Porque dá dinheiro!”. Em um artigo, o juiz federal substituto, Arthur Pinheiro Chaves, disse que “Quem ingressa no curso de Direito com objetivo apenas de ganhar dinheiro fácil será o ultimo a ter sucesso profissional, pois esbarrará no crivo da realidade.”.
Mas como toda regra possui exceção, além daqueles sujeitos que fazem Direito pelo dinheiro e não obtém um sucesso profissional, existem aqueles, infelizmente (em minha opinião), “chegam lá”. De alguma forma (talvez pela ambição de ganhar dinheiro), eles acabam se tornado juízes, advogados, promotores...
A questão é que essa ambição pelo dinheiro não acaba quando eles ocupam seus cargos. Não satisfeitos com o salário, eles continuam fazendo algumas “atividades extras” e, consequentemente, acabam ferindo brutalmente o Direito.
Essa louca ambição pelo dinheiro é uma bola de neve, que cresce na medida em que a corrupção vai se tornando comum no Judiciário. Bertrand Russell disse que “é a ambição de possuir, mais do que qualquer outra coisa, que impede os homens de viverem de uma maneira livre e nobre.”. Os que chegaram a ser juízes, por exemplo, por dinheiro, vão vender sentença para ganhar um “dinheirinho extra”. Afinal, o dinheiro é o que importa!
O diferencial para o bom profissional, o nobre, é o amor pelo Direito. Quando se faz Direito por amor, a ambição fica de lado, o dinheiro é consequência, como diz Tim Maia: “Quando a gente ama não pensa em dinheiro”. Quando passamos a amar o Direito, começamos a fazer o que Albert Einstein sugeriu: “Procure ser um homem de valor, em vez de ser um homem de sucesso.”.
O sucesso vem para aquele que tem ousadia, e vontade de saber cada vez mais. Vem pra quem com determinação, se dedica e aposta no amanha. Vem pra quem procura se superar, pra quem tem esperança de dias melhores, mas não fica parado esperando esses dias chegarem. Para obter sucesso é preciso ter iniciativa para diferenciar-se da multidão, é preciso ter disciplina e garra para levantar em meio aos obstáculos.
Termino esse texto, deixando clara a minha profunda infelicidade toda vez que ouço um “Porque dá dinheiro!”, com um trecho do texto escrito por David Coimbra, escritor e radialista: “No Brasil, para grande parte dos brasileiros, o maior valor, e não raro o único valor, é o dinheiro. E quem tem o dinheiro entre seus principais valores não tem valor algum (...). Porque não existe diferença entre o assassinato cometido na periferia e o bilhão roubado de Brasília - ambos são produtos da ausência de valores. Produto do amor ao dinheiro. Que é o mesmo que desamor.".

Pra quem quiser conferir o texto todo. Vale a pena!

Escrito pela Paulini



Postado por Sandro Sell

4 comentários:

  1. O índice de excelência de um curso de Direito passa pelo número de paulinis que ele possui. Mercenários da lei podem pagar as mensalidades, mas nunca levarão de uma faculdade o que ela pode oferecer de melhor: uma formação, da mente, do estilo e,sobretudo, do caráter.
    Parabéns
    Sandro

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  2. É muito complicado atuar em uma área em que pela própria sistemática de funcionamento somos definitivamente dependentes uns dos outros. O fato de termos que nos manter vinculados a inúmeros juízos de valor que não somente o nosso tem como uma das justificaticas a busca pela "Justiça" - e convenhamos, nunca antes essa palavra fez tanta necessidade de vir expressa "entre aspas" como tem sido ultimamente.

    O que você deixa expor aqui é boa parte dessa insatisfação que temos todas as vezes que nos deparamos com frases do tipo, e aqui amplio o que vocês exprimiu, "pra fazer concurso". É notória a incapacidade que boa parte dos funcionários públicos, em ralação aos quais somos dependentes, em muitos casos, sequer entendem a importância administrativa e mais, humanitária que seus cargos possuem. Não percebem que ao tratar "bem" ou "mal" advogados e afins se está agindo, na verdade, em relação às partes - que em grande parte das vezes não possuem conhecimento acadêmico.
    Enfim, precisamos lutar... como disse o poeta: "Se vivier é resistir, então será..."

    Gostei do texto.

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  3. É preciso sangue novo nessas antigas profissões de juristas! Parabéns Pailine.
    Maria Elizabeth Correa

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  4. As palavras do Magistrado Federal ganharam na mente da autora a mesma destinação que as palavras de Padre Antônio Vieira no célebre "Sermão aos Peixes": o completo vazio.
    Ovídio da Salvação Alighieri

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