sábado, 10 de abril de 2010

Nazistazinho de si mesmo

É triste ter que caber em rótulos. Ser uma guria lésbica, uma menina de família, uma mocinha pra casar ou uma mulher de futuro é tudo quase a mesma coisa: a velha tentativa de se adequar às embalagens feita pelos outros. Não se é lésbica assim ou assada, nem se é emo por um cabelo roxo, espetado por um óculos de soldador. Não existe um tipo de gay padrão, nem uma pessoa legal perfeita.
Ter que se definir, nos ensinam que é importante para saber quem nós somos (alguém sabe mesmo quem é?), é importante para lutar por nossa identidade. Mas o fato de eu gostar de garotas me obriga a encarnar a questão lésbica? Para com isso! Ninguém precisa se definir como algo para experimentar uma coisa. Ninguém se define como mamífero para tomar leite nem de açucareiro para ir a confeitaria. Gostar, experimentar, querer são verbos que indicam uma ação, um estado e não uma forma de se congelar num rótulo.
Mas num mundo que parece ter sido redigido pela Ana Maria Braga, uns viram chocólotras (e se orgulham disso), outros viram gays, outros isso outros aquilo, todos com muita pressa de mostrar sua autenticidade, definindo quem são pelos critérios alheios! “Ai,, essa sou eu!” (You change your mind/Like a girl changes.clothes/ Yeah you, PMS/Like a bitch/ I would know…)
Querem que o papai aprove suas paquerinhas proibidas, que os vizinhos os aceitem como “são”? Eles querem mesmo ser só esse rotulozinho, tipo “mamãe, desculpe, eu sou gay”?. Que jeito tolo de se limitar! O que se consegue assim é um alvará público para se ser o que nem se sabe se de fato se é.  "Vou pro próximo BBB pra mandar um recado pro papai saber que sou vadia"! Que lixo que virou nossa cabeça, ter que ouvir pessoinhas sem noção brincando de autenticidade. Nem por dois milhões de estalekas!
Alguém é puramente gay? Alguém é puramente gordo, tolo, sábio, bandido, vadio, preto, branco, gaúcho ou manezinho? Temos pitadas dessas coisas. Mas querer ser qualquer uma delas em estado puro é falta de aceitação da multiplicidade do que se é. È ser um nazistazinho de si mesmo
Passar a vida atrás de um rótulo para se reduzir e ser compreendido pelo outros, isso é que eu acho uma luta bastarda e inglória. Como esse papo aqui. Mas isso foi o que deu pra ser nesse momento. Outro dia talvez eu seja outra coisa mais apresentável. Mas combinante com as roupas que se usa na sua rave ou na casa da sua vovó. Ou nunca mais serei convidada?

 
Escrito por Fernanda Renaux. Fernanda é acadêmica de Direito da UNIVALI.
 
Postado por Sandro Sell

9 comentários:

  1. Muito bacana.
    Andréia Campos

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  2. Essa é a minha sobrinha! É isso Nanda. Sempre soube que você tinha vocação para a escrita e para a Psicologia, mas você não quis seguir a tia... snif! Será uma grande advogada!
    Abraço, Tia Ju Coelho

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  3. Fernanda, adorei seu texto. Sinta-se sempre apresentável e convidada. Um abraço,
    Thiago Fabres.

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  4. Muito bom, mana!!! O orgulho da família...
    da maninha ovelha negra

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  5. Devia publicar o telefone pra dirimir possíveis dúvidas...
    Fefa

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  6. Mais textos, senhorita Fernanda!
    Abraço, Sandro

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