quarta-feira, 31 de março de 2010

A punição como diversão a despeito da dor

Durante o Império Romano, báraros vencidos, marginais e contestadores à ordem romana, enfim, os que rompiam as normas, eram levados aos anfiteatros para lutarem contra “semelhantes” ou leões, a fim de divertirem ou entreterem aquele microcosmo social representado nas arquibancadas (GUARNIELO, Norberto Luiz. Violência como espetáculo: o pão, o sangue e o circo.).

No Ancien Régime, em frente ao Hôtel-De-Ville, durante os séculos XIV e XVIII, uma multidão se acotovelava para assistir e vibrar com enforcamentos, esquartejamentos, torturas e incinerações. Após a Revolução Francesa a assistência também lá comparecia, mas então, para assistirem o funcionamento da guilhotina. Comenta-se, inclusive, que quando da primeira execução por este instrumento – de Nicolas JacquesPelletier – a multidão saiu decepcionada com a rapidez do processo. O jornal francês La Chronique referendou o caráter “humanitário” da nova ferramenta: "Ela não mancha a mão de um homem da morte de seu semelhante, e a prontidão com a qual abate o culpado está mais de acordo com o espírito da lei, que pode muitas vezes ser severa, mas que não deve jamais ser cruel".
    No Brasil, em 27 de março de 2010, após a leitura do veredito da condenação de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, por volta das 0h 20min, centenas de pessoas, entre elas crianças levadas pelos pais, aplaudiam a decisão, acendiam fogos de artifícios e, em êxtase, gritavam e cantavam: “eia, eia, eia, eles vão para a cadeia!!”, "Pega lá, pega lá, pega lá, pra nós linchar!!!”...
   A população comemora e sorri! Apesar de todas as vidas desgraçadas... Da mãe e de sua família; dos pais e dos filhos de Alexandre e Anna Carolina e, principalmente, de Isabella. O silêncio teria sido a melhor manifestação de respeito ao drama familiar que todos nós assistimos.

                                              O tempo passa e a sede por sangue é a mesma...


Postado por Felipe Moreira de Oliveira

5 comentários:

  1. Com mais o Felipe no blog, nosso índice de gaudérios passa a 50%! E o de carecas sobe para 30%! Para quem não conhece o Felipe (os calouros), ele era o professor-show no penal do CESUSC há um tempo. Voltou para as proximidades da Lagoa dos Patos, deixando o espaço para a nova geração (aquela que perdeu a virgindade após a edição da Lei Maria da Penha (Thiago) e para a velha guarda renascida, aqueles que conheceram o suadoooso Nelson Hungria vivo.
    Felipe é penalista em tudo. Sua filha, por exemplo, chama-se Isabela. Isso é que é coerência! Bem-vindo de volta à casa, véio!!!

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  2. Ideologia, hegemonia e alienação: combinação perfeita para a criação de um inimigo no imaginário coletivo.

    Elle

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  3. Existe uma expressão alemã chamada "schadenfreude" (Schaden=prejuízo e Freude=prazer).

    Ela traduz aquele sentimento de prazer cruel na desgraça alheia. Já ouvi dizer que é uma fenômeno médico mesmo... Pelo que parece, quando vemos os outros falharem ou se ferrarem, às vezes, uma substância é lançada em algum lugar do cérebro do cérebro e isso nos faz sentir prazer.

    Pra mim, a schadenfreude relaciona-se claramente com esse prazer da mídia e do público em ver a desgraça dos Nardoni... Triste...

    Cássio Rebouças de Moraes
    www.twitter.com/cassio_moraes

    ps: não faço a mínima ideia de como se pronuncia isso hehehe

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  4. Acredito que se os outros filhos do Alexandre Nardoni fossem ao forum visitar os pais naquele dia seriam vaiados pela multidão ignorante. Se vaiaram o advogado, os pais do rapaz e qualquer um que ousasse tocar na carne impura dos Nardoni, tenho medo do que fariam com crianças.
    Parabéns Felipe

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  5. Valeu pela recepção Sandro!! É uma honra participar do blog dos "Criminosos do Cesusc". Sabes o quanto amo essa casa e os amigos que tenho no Desterro. Tô nessa! Professor-show de penal é mentira (era de processo, hahahaha), ou melhor, bondade do amigo. Mas que o Thiago perdeu a virgindade depois da Maria da Penha, isso é verdade!! Abraços!

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