segunda-feira, 8 de março de 2010

A tatuagem do professor Thiago

O professor Thiago é, como sabemos, um sujeito tatuado. Carrega a justiça carimbada no seu braço e, acredito, também na sua iluminada cabeça.

Tatuagem e professor de Direito penal combinam? ("mandem suas opiniões, sua participação é muito importante para nós" - Pedro Bial).

O que diria sobre essa mania de riscar o corpo à canetinhas, tão comum nas crianças e nos Thiagos, o senhor Cesáre Lombroso (1835-1909), um dos "pais"da Criminologia (até que saia o resultado do DNA, eu me recuso a retirar as aspas)? Ele diria que a causa seria sobretudo:

O atavismo! Isso mesmo, o reaparecimento em uma nova geração de características de nossos antepassados primitivos. Nessa perspectiva, o Professor, ao tatuar-se, deu vazão ao seu lado mais ancestral, permitndo um contato entre nós (os civilizados) e eles (os homens das cavernas). Thiago é, então, o elo perdido na cadeia evolutiva...

Não concorda? Vai defender o concorrente? Cito o próprio Lombroso, em festejada síntese:

 "A principal causa que dissemina entre nós esse costume de tatuar-se é, ao meu ver, o atavismo ou aquele outro gênero de atavismo histórico chamado tradição. A tatuagem é, com efeito, uma das características essenciais do homem primitivo e daquele que vive em estado selvagem. " (O homem delinquente, p. 312).

Se perguntassem a esse médico italiano o que há de comum entre loucos, delinquentes natos e selvagens botocudos, ele diria: "tatuam-se".

alguns anos, quando ainda não lera o tratado do Dr.  Lombroso, pensei também em me tatuar. Voltei para casa por medo das agulhas. Me senti mal, um verdadeiro covarde. Mas eu estava errado!

Depois da leitura realizada,  descobri que voltei mesmo sem  me tatuar não por covardia, mas por ser uma pessoa muito evoluída, sem possibilidade de retroceder à eras tenebrosas e jurassics parks. Sai pra lá, atavismo!

Postado por Sandro Sell

P.S. Não me acusem de anacronismo, isso é só uma brincadeira.  Um autor deve ser analisado de conformidade com a sua época e não com a nossa. Lombroso é um homem do seu tempo (embora já fosse polêmico à época). Sacramentou o uso de estudos clínicos na Criminologia, numa tradição que, posteriormente, foi superada - devido ao simplismo de relações como orelha de abano e criminalidade (sim, isso está no livro) e a substituição do conceito de criminoso enquanto ser ontológico (o criminoso enquanto subespécie humana) pela idéia de criminalizado (o criminoso enquanto um ser etiquetado como tal pelas sempre seletivas agências de criminalização - polícia, juidiciário, opinião pública...).
Em atrapalhada síntese, se poderia dizer que, de Lombroso à Zaffaroni, se vai do criminoso enquanto tipo específico e atrasado de humano a pessoas que, por sua vulnerabilidade, mais do que por sua conduta, são constituídos discursivamente enquanto indesejáveis e, assim, selecionadas, dentre as milhares de praticantes de ilícitos, para viverem em jaulas.
 Muitos cometerão ilícitos mas só os indesejáveis - "pobres, feios e malvados" - serão ditos criminosos e trancafiados por isso. Lombroso confundiu quem pratica o crime (todos nós em algum grau) com quem estava nas cadeias (criminoso-criminalizado). Anotou, apenas a partir desses, a repetição de características, descobrindo, então, que os criminosos costumam ser feios, atarracados, pouco instruídos, sujos e tatuados.
Hoje o pensamento acadêmico é outro.
 Mas a tradição da visão médica do crime ressurge. Basta ver o Discovery Chanell para perceber que está na moda cassar genes especiais em criminosos (o gene da maldade). Seria isso um atavismo da Criminologia?

2 comentários:

  1. Legal prof.! Quer dizer que minhas tatoos são a medida de minha burrice? (então meu pai tava certo!). Vish. descobri que sou filha do Lombroso!
    Parabéns pelos textos.
    Emily

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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