domingo, 7 de novembro de 2010

"Nordestino não deve votar!"

O fato de Dilma ter sido eleita com grande parte do voto das regiões mais carentes do Brasil pode – e deve – gerar uma série de possíveis hipóteses:
 Primeira: os bolsa-isso-e-aquilo não seriam uma forma subliminar de compra de voto? Para mim, a resposta é não, pois que se trata de uma política estatal de distribuição de renda, que – ao contrário dos outros modelos – canalizou verbas da nação para os mais aflitos. Se o governo tivesse ampliado  o subsidio das passagens aéreas, se o governo tivesse aumentado o limite das compras no free-shop (o bolsa-muamba), se o governo tivesse ampliado ainda mais o subsídio ao diesel, para que as caminhonetes de luxo economizem às nossas custas (o bolsa-mitsubishi), se tivesse aumentado  o índice de dedução da lei de incentivo à cultura (para que os atores do zorra-total possam ter seus espetáculos teatrais ainda mais financiados pelo uso de impostos das “empresas patrocinadoras”), se tivesse insistido, enfim, nos inúmeros bolsa-classe-média-alta, ninguém acharia compra de voto. 
Segunda: os nordestinos não sabem votar? Durante décadas se ouviu dizer que os nordestinos, por seu escasso acesso à educação, votavam em velhos coronéis que, dizendo-se seus “padrinhos”, apenas perpetuavam sua miséria. Então, surge um outro “coronel”, só que dessa vez paga para as crianças deixarem as carvoarias e irem para a escola; que tributa negativamente os miseráveis, gerando renda em forma de bolsa. E as pessoas dessas regiões compreendem a diferença entre os “ coronéis”  e votam para que assim continue. Isso é não saber votar?
3)    Mas o que mais assusta é o “ovo da serpente” da mentalidade fascista: bastaram as análises – muito mal feitas, por sinal – de que as regiões pobres é que elegeram a continuidade de Lula para que o fascismo de classe média voltasse à tona: nordestino não deveria votar! Fascismo em grande parte incentivado pela grande mídia que, descontente por ter perdido parte de suas bolsas-publicidade-do-governo e por não poder decidir nas suas reuniões privadas quem seria o presidente do Brasil (como fizeram com Collor), trataram dizer que o resultado da eleição mostra dois brasis: o do Lula e o desenvolvido.
      Foi a vitória da opinião pública sobre a opinião publicada. Pois, leia a as manchetes das revistas e jornais dos últimos anos e note que, para a grande mídia, os únicos problemas relevantes sempre foram: atrasos nos aeroportos, reajustes nos planos privados de saúde, compra-e-venda de atletas e assassinatos com vítimas especiais (ou seja: não favelados). Não é à toa que leitores desses meios não consigam avaliar o significado de 100 reais na vida de uma família no interior do Piauí. Para tais leitores, política pública é melhorar as vias de acesso aos shopings, duplicar rodovias praieiras e baixar o preço da entrada no cinema.
     Infelizmente, para o projeto da manutenção de dois brasis, os pobres estão aprendendo a votar. O “nordestino “ (denominação genérica do eleitor da Dilma de qualquer região) já não é mais controlado unicamente pela opinião da grande mídia. E chamar tal descontrole de analfabetismo político só indica uma coisa: que os “democratas” da oposição só aceitam a soberania das urnas quando saem vencedores.  


    
      Sandro Sell


    Foto: Mussolini, que também só acreditava nas urnas quando estas lhe favoreciam.
  
S

6 comentários:

  1. "Vitória de Dilma aconteceria mesmo sem o Nordeste.
    As postagens dos internautas responsabilizando o Nordeste pela vitória petista, mostram seus desconhecimento dos números da eleição, já que se o Nordeste fosse excluído dos cálculos, Dilma ainda venceria Serra, com uma diferença de cerca de 1,3 milhão de votos" Fonte: Radio Criciúma.

    E tem um post no meu blog que trata sobre as consequências disso: http://genealogiadocaos.blogspot.com/2010/11/mpf-prepara-laudo-sobre-suspeita-de.html

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  2. Parabéns pela matéria. Veja dois artigos sobre o tema em:

    www.valdecyalves.blogspot.com

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  3. Só você pra fazer a gente enxergar as coisas em 360º. Parabéns, professor Sandro!

    Abraço

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  4. Professor Sandro!!!!

    Parabêns!!!!
    Realmente a burguesia não consegue entender a importância da bolsa familia e bolsa escola em regiões pobres como o nordeste.. Isso acontece, pelo fato de olhar só o que está a sua volta, e não ter a capacidade de ir além do mundo onde vivem!! O nordeste brasilieiro não é a região sul do Brasil em que vivemos, e precisa ser tratata diferente, respeitanto suas particularidades.
    Precisamos apoiar as políticas de ajudas sociais, pois somente com uma distribuição de renda digna é que um País se desenvolve!
    Abraços,
    Debora Rieth

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  5. "os democratas da oposição só aceitam a soberania das urnas quando saem vencedores" Muito bem colocado.

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  6. "bolsa-classe-média-alta" O senhor não tem noção do quanto eu ri lendo isso!

    Receba mais um humilde parabéns!

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