Uso de viaturas "vitrine" é estratégia equivocada da Polícia Militar, defende especialista
Sandro Sell diz, ainda, que a PM desrespeita as leis de trânsito estacionando em passagem de pedestres
A nova estratégia adotada pela Polícia Militar (PM) para tentar aumentar a sensação de Segurança à população pode ter o efeito inverso. É o que aponta o professor de Criminologia do Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina (Cesusc), em Florianópolis, Sandro Sell.
Na avaliação do especialista, a colocação de viaturas policiais desocupadas em pontos estratégicos para sugerir à população que a área está sendo patrulhada é uma prática equivocada, já que a informação sobre o esquema de segurança "virtual" é amplamente difundida entre os cidadãos. Para ele, diferentemente do que sugere a PM, o efeito da iniciativa é justamente o contrário.
— Sensação de segurança se dá com a efetiva presença do policial, humana, e não com a apresentação de equipamentos novos e inutilizados. É com policial de prontidão — disse Sell, em entrevista nesta segunda-feira à rádio CBN/Diário.
Na opinião dele, a população sente-se segura quando pode visualisar a presença efetiva da polícia em seu dia a dia — representada por policiais em rondas à pé, montados em cavalos ou em bicicletas em áreas de maior movimento.
Ele reclama, ainda, que a polícia não pode presumir que o criminoso seja menos informado que o restante da população.
— Quem não conhece um policial que lhe falaria que aquelas viaturas não têm efetividade? Todos ficam sabendo disso, de uma forma ou de outra. Não é a divulgação pela imprensa que fará um criminoso ficar sabendo disso — analisa.
Sell também contesta o desrespeito à legislação pela PM, que acaba por estacionar as viaturas em passagens de pedestres, sobe calçadas e em praças centrais. Para o professor, quem deveria "dar exemplo" e cobrar o respeito às leis faz justamente o contrário. O tráfego em locais do tipo só é permitido em situações de emergência, ressalta.
Na avaliação do professor de Criminologia, a PM acaba por fazer um marketing contra a própria instituição. A população conseguiria analisar que, no caso de uma emergência, não haverá um policial por perto para pedir ajuda.
Outro item questionado é o flagrante da prática justamente na região da Capital, que reúne o maior efetivo da Polícia Militar no Estado.
— Tem muito policial servindo cafezinho e cuidando de estacionamento. Sai mais barato para a polícia inutilizar uma viatura nova, que custou caríssimo para a população — diz, referindo-se ao aumento do número de policiais nas ruas.
Denúncia
A polêmica surgiu depois da veiculação de uma reportagem no programa Estúdio Santa Catarina, da RBS TV, no domingo à noite, que flagrou viaturas policiais usadas como "vitrine" em Florianópolis.
A prática é tão comum que consta na escala de serviço da corporação e recebe o nome de "viatura de vitrine". O chefe da Comunicação Social da PM, tenente-coronel João Amorim, disse que deixar um carro vazio com o giroflex ligado em pontos chaves de Florianópolis faz parte da estratégia. Justifica que aumenta a sensação de segurança da população.
Ele argumenta que o policiamento não é feito somente com homens, mas também equipamentos.
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