quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A arte de pensar

A admiração, já apregoada pelos primeiros filósofos gregos da antiguidade, é um dos requisitos fundamentais na arte de pensar. Ela pode ser vista sob dois aspectos: passivo e ativo. Na admiração passiva, captam-se contemplativamente os estímulos da realidade; na admiração ativa, exige-se o uso da dialética, pois esta obriga-nos a perguntar e responder, tal qual fazia Sócrates, com a sua ironia e a sua maiêutica. Cabe-nos estabelecer uma relação equilibrada entre essas duas formas de construção do conhecimento.
A invenção é o arcabouço teórico do pensamento. É a partir dela que o nosso pensamento se exercita. A maioria das vezes é expressa pela fórmula "lucem demonstrat umbra", ou seja, é a sombra que nos faz conhecer a luz. Pensar, muitas vezes, é suplantar uma situação confusa, nebulosa e irracional. Assim, o pensamento parte sempre do falso para o verdadeiro, do erro para a verdade, da sombra para a luz. Sobre a invenção, Napoleão dizia: "desenvolvo sempre o meu tema de muitas maneiras".
Escolher é excluir. Quando pensamos em algo, recusamos tudo o mais. Para que possamos desenvolver plenamente a arte de pensar, há necessidade de abandonarmos aquilo que não nos interessa, aquilo que não faz parte do nosso projeto de vida. Para tal, o procedimento correto seria: escolha de um assunto de nosso interesse, aprofundando-o o máximo possível, para daí extrair os sucos saborosos do aprendizado. O diaphora eidopois (a diferença que especifica) deve ser muito enfatizada, para entendermos o uso correto das palavras.
A distinção dos termos é outra faceta na arte de pensar. Sob esse mister, não são poucas as palavras que apresentam dubiedades. Para isso, precisamos dar às palavras o seu sentido exato, e se não for possível, o mais próximo de um perfeito entendimento. Usamos constantemente as palavras amor, humildade, egoísmo e orgulho. Será que consideramos os dois lados da questão, como por exemplo, o egoísmo virtuoso e o vicioso? Dentro desse contexto, podemos afirmar que há muitos ateus que são mais religiosos do que os próprios religiosos, porque ter uma religião não significa necessariamente que a pessoa seja religiosa.
A contradição é o esgrima do pensamento. Santo Tomás, em sua Suma Teológica, usava constantemente o sed contra est (mas em contrário se diz). Isso quer dizer que deveríamos rejeitar todo o pensamento que parece correto, a fim de adquirir um conhecimento mais próximo da verdade. As frases, "supor que o impossível exista é um dos preceitos da arte de inventar" e "a arte de pensar consiste em supor, por um momento, que as coisas poderiam ser o contrário do que são", servem perfeitamente para ilustrar essa questão.
O pensamento sempre precisa de combustível. Se não lhe dermos o alimento de que necessita, ele pode se atrofiar. A solução: nunca estejamos de todo ociosos: ora lendo, ora escrevendo, ora refletindo, eis o exercício por excelência.
SÉRGIO BIAGI GREGÓRIO
Fonte de Consulta
GUITTON, J. Nova Arte de Pensar. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1966.

Postado Sandro Sell

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